terça-feira, 29 de outubro de 2013

A Justiça


Quando criança eu tinha a mania de me sentir sempre injustiçado. Por um ou outro motivo, não me tinham feito justiça, sem perceber que, para mim, a injustiça era sempre qualquer restrição feita aos meus desejos, fantasias e vontades.
E invariavelmente arrebentava em lágrimas de protesto.
Um dia papai me chamou e disse:
- Meu filho, vamos combinar uma coisa. Você sabe que papai não gosta de ver você triste, não é? Então nós vamos fazer o seguinte: cada vez que você chorar, escreva num papel a causa. Coloque o papel no vaso azul, ali, sobre a escrivaninha. Deixe passar alguns dias e leia-o. Se achar que o assunto ainda o está aborrecendo, venha a mim, conte-me o caso e eu lhe prometo que corrigirei a injustiça que tiverem feito contra você. Combinado?
Estava combinado. Nos primeiros dias eu enchi o vaso azul de anotações. Passadas no preto e branco, minhas queixas me pareciam perfeitamente justificadas.
Passaram-se os dias e meu pai voltou a falar comigo.
- Você já pode começar a reexaminar os seus papéis. Depois venha falar comigo.
Comecei. Mas, estranhamente, constatei que minhas queixas eram banais e que, na realidade, não havia naquilo nada que pudesse motivar aborrecimento.
Abreviei o espaço dos dias e, depois, passei a examinar os papéis horas depois dos acontecimentos.
Verifiquei que não tinha nenhuma injustiça a exigir a reclamação de papai. E parei de chorar várias vezes ao dia, como estava acostumado a fazer.
Hoje compreendo que tudo foi uma brincadeira de papai. Todavia, com grande habilidade ele me levou a refletir antes de agir. E desenvolveu em mim a compreensão a respeito do que é justiça e injustiça em face do nosso egocentrismo, exigência de privilégios e pretensões descabidas.
Com isso meu espírito de tolerância ganhou uma amplitude que me tem beneficiado ao longo de toda a vida.
Da obra "E, Para o Resto da Vida...", Wallace Leal V. Rodrigues, ed. O Clarim.


sábado, 28 de setembro de 2013

Educação ambiental - Lixo

A Garota que calou o mundo por 6 minutos - Eco 92

RIO+20

A Rio+20 é a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável. Mas o que de fato isso significa?  É uma reunião da ONU com quase todos os países do mundo (mais de 190) para discutir como o mundo poderá crescer economicamente, tirar pessoas da pobreza e preservar o meio ambiente --tudo ao mesmo tempo. Para isso, são necessários novos meios que evitem as crises financeira e de empregos pela qual passamos atualmente.
Foram escolhidos dois temas centrais: a economia verde, com um novo modelo de produção que degrade menos o meio ambiente, e a governança internacional, que indicará estruturas para alcançar este futuro desejado.
A Rio+20 acontece no Rio de Janeiro, de 13 a 22 de junho. Ela é chamada assim porque vai dizer o que queremos para o futuro da humanidade, mas também marca os 20 anos da Rio92 ou ECO92. Esta é uma conferência símbolo no mundo todo pois trouxe a discussão sobre ambiente para o dia a dia das pessoas. Reciclagem de lixo, preocupação com poluição e desmatamento da Amazônia, incentivo para a economia de água são algumas atitudes comuns hoje que tiveram grande projeção nesta época.
As negociações oficiais e os mais de mil eventos paralelos irão reunir governos, empresas, ONGs, acadêmicos e movimentos sociais para identificar soluções e metas para enfrentar os desafios globais urgentes, como a falta de acesso a energia e água potável, oceanos esgotados, insegurança alimentar, as crescentes desigualdades e cidades em rápida expansão. Eles também decidirão formas de impulsionar a sustentabilidade corporativa, criação de empregos verdes, avançar o papel da ciência e inovação, fechar lacunas tecnológicas, gerar o financiamento necessário e melhorar mecanismos de cooperação internacional.


O que você oferece à natureza em retribuição a tudo o que ela lhe proporciona?
Reflita!!!



Rio+20 Desafios da Sustentabilidade.






domingo, 15 de setembro de 2013

POEMA

NATUREZA

Estudando a natureza
A gente fica emocionado
E conclui, com toda certeza:
Só Deus pode tê-la criado.

Cada flor, cada estrela
E o céu bem azulzinho,
O zunido da abelha
E o canto do passarinho...

São coisas simples e tão belas
Que pouca gente dá valor;
A vida seria triste sem elas
E não teria o mesmo sabor.

O sorriso de uma criança,
O gatinho que brinca engraçado,
Enche a gente de esperança
Neste mundo conturbado.

Existem muitas teorias
Que falam da evolução.
Tentam confundir a harmonia
e a verdade da criação.

Não importa no que você acredita.
Não interessa se você é ateu.
A própria natureza justifica
Que é a obra prima de Deus!

Lídia Vasconcelos

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

ONOMATOPEIA

Vocábulo que procura imitar determinados sons ou ruídos naturais. Não é uma reprodução fiel do som ou ruído, mas sua interpretação aproximada com os sons existentes em uma língua. Geralmente, é um monossílabo repetido, com alteração vocálica ou não. O "fru-fru" de um vestido, o "zum-zum" da abelha e o "tic-tac" do relógio são exemplos de onomatopeia. O termo vem de duas palavras gregas que significam criar um nome.
.
Veja os quadrinhos produzidos por alguns dos meus alunos com o uso de onomatopeias:


BIANCA 6ªD


JANIELE 6ª C
SAMUEL 6ªB
CAUAN 6ª C



GUILHERME FERREIRA 6ªA


BÁRBARA LÍVIA 5ªA

RICARDO 6ªC



ANDRESSA 6ªD








quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Dez dicas que incentivam a escrita criativa

Uma dica aqui e outra ali sempre ajuda o ato de transpor para o papel, ou a tela, as ideias que o autor do texto quer passar ao leitor. Pensando nisso, extraí de Escrever com Criatividade, do jornalista Luciano Martins (Editora Contexto, São Paulo, 2001), dez dicas interessantes. Este livro é muito bom porque desfaz mitos que cercam a produção textual.

Que fique claro: as dicas não se referem à gramática. Os fragmentos a seguir, com transcrição literal, convidam cada um a perceber que a escrita criativa não tem mágica. E possibilitam reflexões que ajudam o desenvolvimento do texto com prazer, e não por obrigação. Confira:

Vocabulário - "O melhor meio de obter vocabulário pela leitura é ler textos que sejam agradáveis e que ao mesmo tempo tenham qualidade. Outra maneira de desenvolver o vocabulário é o diálogo. Na hora do bate-papo, procure manter a conversa dentro da temática que é conduzida pelo grupo, sem saltar de um assunto para outro;

Bom exercício - "Outra boa maneira de adquirir vocabulário é observar as coisas que acontecem em sua rotina. Olhe as pessoas na rua. Veja como se vestem, a maneira como andam, tente distinguir os vários tipos humanos que povoam a cidade. Não se recuse a tirar um "sarro" de você mesmo, transformando-se em personagem de suas próprias histórias. Além de ser um bom exercício, isso nos ajuda a não levar muito a sério pequenas angústias do dia a dia. ... Não passe pela vida como se não tivesse nada a ver com o que acontece à sua volta. A partir dessa observação, você pode sofisticar suas narrativas quando souber dosar a oferta de informações no seu relato;

Sequência - " Uma pessoa que sabe contar bem uma história ou uma piada está em princípio qualificada para escrever bem. Basta imaginar os interlocutores, definir a posição que irá adotar e respeitar a sequência que utilizaria se fosse contar a história verbalmente;

Fatores básicos - "Existem dois fatores básicos entre os que em geral atrapalham no momento de escrever: o excesso de autocrítica e a falta de compromisso com o conteúdo;

Insegurança - "A sensação de insegurança que surge sempre que você tem de começar um texto é a mesma que ataca qualquer ser humano diante de desafios e mudanças;

Estado de prontidão - "Acredite: todo mundo pode ser criativo. A criatividade não precisa ser um estado permanente. Ninguém espera que você esteja sempre em alerta para escrever um texto brilhante ou oferecer a solução genial para todo problema que aparecer. Mas todo mundo pode desenvolver um estado de prontidão para a criatividade;

Autenticidade - "... o melhor texto é o mais próximo da verdade de quem o escreveu, mas também podemos estender seu significado à própria intenção da escrita: se não houver autenticidade naquilo que está sendo comunicado, a própria linguagem vai denunciar a falsidade da intenção;

Ritmo - "O que é que a música tem de fundamental? O ritmo, certo? O que é que marca mais profundamente um texto, ou qual o aspecto primário de percepção de um texto? O ritmo. Um texto que seja capaz de transmitir a sensação de ritmo prende a atenção de quem está lendo e pode transmitir melhor seu conteúdo;

Envolvimento - "Não comece a escrever enquanto não se sentir totalmente envolvido(a) com a ideia. Lembre-se de considerar o aspecto emocional da criação, mesmo que a objetividade seja uma exigência no caso de um projeto;

Intuição - "Se você for capaz de libertar seu raciocínio e deixar que a intuição brote no ato de se expressar, você estará realmente contando uma história. Você estará se permitindo mesclar a estrutura do pensamento com a estrutura do sentimento".

"Agente" ou "A gente"?

Cuidado para não cair em 'pegadinhas' quando produzir um texto! Na fala, muitas vezes, a escorregadela é imperceptível, porém a escrita requer alguns cuidados. Daí a importância de revisar direitinho antes de tornar público o que se escreveu. 

Exemplo: 'agente' e 'a gente'. Na forma oral, tudo parece  igual porque a sonoridade é a mesma . Basta fazer sentido o que foi dito para que o receptor da mensagem compreenda a intenção do emissor. Já, na escrita, não é tão simples assim.

'Agente', com o 'A' juntinho da expressão 'gente', é um substantivo que leva à ideia de ação. E os exemplos são muitos: agente de saúde, agente de limpeza, agente jurídico, agente sanitarista. Quando o 'A' aparece separado do termo 'gente', o significado é outro. Passa a ter função do pronome da primeira pessoa do plural 'nós'.

Quando é utilizada a expressão 'a gente', toda atenção é pouca em relação à concordância na hora de formular uma frase. Dizemos 'a gente vai para a escola', 'a gente gosta de esporte'. Portanto, nada de 'a gente vamos...' ou 'a gente gostamos...'



Nesta era das redes sociais em que se escreve às pressas, nem sempre os internautas ficam atentos à grafia das palavras e caem em pegadinhas como essa.  Porém é muito importante a leitura atenta antes da publicação das postagens. (Imagem - Escrevemos.com)

sábado, 27 de julho de 2013

A Pequena Vendedora de Fósforos






Nem todas as histórias tem final feliz. Essa história é uma crítica à sociedade que exclui minorias. 


Para assistir a animação, clique aqui. 


(escrito por Hans Christian Andersen)

Era véspera de Natal. Fazia um frio intenso; já estava escurecendo e caía neve. Mas a despeito de todo o frio, e da neve, e da noite, que caía rapidamente, uma criança, uma menina descalça e de cabeça descoberta, vagava pelas ruas. Ela estava calçada quando saiu de casa, mas os chinelos eram muito grandes, pois eram os que a mãe usara, e escaparam-lhe dos pezinhos gelados quando atravessava correndo uma rua para fugir de dois carros que vinham em disparada. Não pôde achar um dos chinelos e o outro um rapazinho apanhou e saiu correndo, gritando que aquilo ia servir de berço aos seus filhos quando os tivesse. A menina continuou a andar, agora com os pés nus e gelados. Levava no avental velhinho uma porção de pacotes de fósforos. Tinha na mão uma caixinha: não conseguira vender uma só em todo o dia, e ninguém lhe dera uma esmola — nem um só cruzeiro.
Assim, morta de fome e de frio, ia se arrastando penosamente, vencida pelo cansaço e desânimo — a imagem viva da miséria.
Os flocos de neve caíam, pesados, sobre os lindos cachos louros que lhe emolduravam graciosamente o rosto; mas a menina nem dava por isso. Via, pelas janelas das casas, as luzes que brilhavam lá dentro. Sentia-se na rua um cheiro bom de pato assado — era a véspera de Natal —; isso sim, ela não esquecia.
Achou um canto, formado pela saliência de uma casa, e acocorou-se ali, com os pés encolhidos, para abrigá-los ao calor do corpo; mas cada vez sentia mais frio. Não se animava a voltar para casa, porque não tinha vendido uma única caixinha de fósforos, e não ganhara um vintém. Era certo que levaria algumas lambadas. Além disso, em sua casa fazia tanto frio como na rua, pois só havia o abrigo do telhado, e por ele entrava uivando o vento, apesar dos trapos e das palhas com que lhe tinham tapado as enormes frestas.
Tinha as mãozinhas tão geladas… estavam duras de frio. Quem sabe se acendendo um daqueles fósforos pequeninos sentiria algum calor? Se se animasse a tirar um ao menos da caixinha, e riscá-lo na parede para acendê-lo… Ritch!. Como estalou, e faiscou, antes de pegar fogo!
Deu uma chama quente, bem clara, e parecia mesmo uma vela quando ela o abrigou com a mão. E era uma vela esquisita aquela! Pareceu-lhe logo que estava sentada diante de uma grande estufa, de pés e maçanetas de bronze polido. Ardia nela um fogo magnífico, que espalhava suave calor. E a meninazinha ia estendendo os pés enregelados, para aquecê-los, e… tss! Apagou-se o clarão! Sumiu-se a estufa, tão quentinha, e ali ficou ela, no seu canto gelado, com um fósforo apagado na mão. Só via a parede escura e fria.
Riscou outro. Onde batia a luz, a parede tornava-se transparente como um véu, e ela via tudo lá dentro da sala. Estava posta a mesa. Sobre a toalha alvíssima via-se, fumegando entre toda aquela porcelana tão fina, um belo pato assado, recheado de maçãs e ameixas. Mas o melhor de tudo foi que o pato saltou do prato, e, com a faca ainda cravada nas costas, foi indo pelo assoalho direto à menina, que estava com tanta fome, e…
Mas — o que foi aquilo? No mesmo instante acabou-se o fósforo, e ela tornou a ver somente a parede nua e fria na noite escura. Riscou outro fósforo, e àquela luz resplandecente viu-se sentada debaixo de uma linda árvore de Natal! Oh! Era muito maior e mais ricamente decorada do que aquela que vira, naquele mesmo Natal, ao espiar pela porta de vidro da casa do negociante rico. Entre os galhos, milhares de velinhas. Estampas coloridas, como as que via nas vitrinas das lojas, olhavam para ela. A criança estendeu os braços diante de tantos esplendores, e então, então… apagou-se o fósforo. Todas as luzinhas da árvore de Natal foram subindo, subindo, mais alto, cada vez mais alto, e de repente ela viu que eram estrelas, que cintilavam no céu. Mas uma caiu, lá de cima, deixando uma esteira de poeira luminosa no caminho.
— Morreu alguém — disse a criança.
Porque sua avó, a única pessoa que a amara no mundo, e que já estava morta, lhe dizia sempre que, quando uma estrela desce, é que uma alma subiu para o céu.
Agora ela acendeu outro fósforo; e desta vez foi a avó quem lhe apareceu, a sua boa avó, sorridente e luminosa, no esplendor da luz.
— Vovó! — gritou a pobre menina. Leva-me contigo… Já sei que, quando o fósforo se apagar, tu vais desaparecer, como sumiram a estufa quente, o pato assado e a linda árvore de Natal! E a coitadinha pôs-se a riscar na parede todos os fósforos da caixa, para que a avó não se desvanecesse. E eles ardiam com tamanho brilho, que parecia dia, e nunca ela vira a vovó tão grandiosa, nem tão bela! E ela tomou a neta nos braços, e voaram ambas, em um halo de luz e de alegria, mais alto, e mais alto, e mais longe… longe da Terra, para um lugar, lá em cima, onde não há mais frio, nem fome, nem sede, nem dor, nem medo, porque elas estavam, agora, no céu com Deus.
A luz fria da madrugada achou a menina sentada no canto, entre as casas, com as faces coradas e um sorriso de felicidade. Morta. Morta de frio, na noite de Natal.
A luz do Natal iluminou o pequenino corpo, ainda sentado no canto, com a mãozinha cheia de fósforos queimados.
— Sem dúvida, ela quis aquecer-se — diziam.
Mas… ninguém soube que lindas visões, que visões maravilhosas lhe povoaram os últimos momentos, nem com que júbilo tinha entrado com a avó nas glórias do Natal no Paraíso.






Esse conto nos faz refletir questões importantes como: o abandono, a miséria, a fome, a indiferença, a inveja, a exclusão.
É importante que pensemos nessas questões e no que podemos fazer para ajudar a tornar a vida do nosso próximo e por conseqüência, a nossa melhor. 
Que as pequenas e os pequenos vendedores de fósforo tenham histórias lindas, cheias de amor, compaixão, ajuda, carinho e felicidade. 

quinta-feira, 18 de julho de 2013

Um Amor para Recordar


Queria compartilhar com você, um vídeo que retrata uma linda história de amor!
Abra seu coraçãozinho e deixe que  a magia do amor invada a sua vida por alguns momentos. Só não vale chorar!!!
Beijo

                                    


quarta-feira, 17 de julho de 2013

Apólogo

O apólogo é uma narrativa curta em que as personagens principais são seres inanimados que pensam e agem como seres humanos. Geralmente, estes atuam ao lado de seres humanos, que têm uma função menor na narrativa. O apólogo, assim como as fábulas, apresenta um ensinamento moral.

Um Apólogo

Era uma vez uma agulha, que disse a um novelo de linha:
— Por que está você com esse ar, toda cheia de si, toda enrolada, para fingir que vale alguma cousa neste mundo?
— Deixe-me, senhora.
— Que a deixe? Que a deixe, por quê? Porque lhe digo que está com um ar insuportável? Repito que sim, e falarei sempre que me der na cabeça.
— Que cabeça, senhora?  A senhora não é alfinete, é agulha.  Agulha não tem cabeça. Que lhe importa o meu ar? Cada qual tem o ar que Deus lhe deu. Importe-se com a sua vida e deixe a dos outros.
— Mas você é orgulhosa.
— Decerto que sou.
— Mas por quê?
— É boa!  Porque coso.  Então os vestidos e enfeites de nossa ama, quem é que os cose, senão eu?
— Você?  Esta agora é melhor. Você é que os cose? Você ignora que quem os cose sou eu e muito eu?
— Você fura o pano, nada mais; eu é que coso, prendo um pedaço ao outro, dou feição aos babados...
— Sim, mas que vale isso? Eu é que furo o pano, vou adiante, puxando por você, que vem atrás obedecendo ao que eu faço e mando...
— Também os batedores vão adiante do imperador.
— Você é imperador?
— Não digo isso. Mas a verdade é que você faz um papel subalterno, indo adiante; vai só mostrando o caminho, vai fazendo o trabalho obscuro e ínfimo. Eu é que prendo, ligo, ajunto...
Estavam nisto, quando a costureira chegou à casa da baronesa. Não sei se disse que isto se passava em casa de uma baronesa, que tinha a modista ao pé de si, para não andar atrás dela. Chegou a costureira, pegou do pano, pegou da agulha, pegou da linha, enfiou a linha na agulha, e entrou a coser.  Uma e outra iam andando orgulhosas, pelo pano adiante, que era a melhor das sedas, entre os dedos da costureira, ágeis como os galgos de Diana — para dar a isto uma cor poética. E dizia a agulha:
— Então, senhora linha, ainda teima no que dizia há pouco?  Não repara que esta distinta costureira só se importa comigo; eu é que vou aqui entre os dedos dela, unidinha a eles, furando abaixo e acima...
A linha não respondia; ia andando. Buraco aberto pela agulha era logo enchido por ela, silenciosa e ativa, como quem sabe o que faz, e não está para ouvir palavras loucas. A agulha, vendo que ela não lhe dava resposta, calou-se também, e foi andando. E era tudo silêncio na saleta de costura; não se ouvia mais que o plic-plic-plic-plic da agulha no pano. Caindo o sol, a costureira dobrou a costura, para o dia seguinte. Continuou ainda nessa e no outro, até que no quarto acabou a obra, e ficou esperando o baile.
Veio a noite do baile, e a baronesa vestiu-se. A costureira, que a ajudou a vestir-se, levava a agulha espetada no corpinho, para dar algum ponto necessário. E enquanto compunha o vestido da bela dama, e puxava de um lado ou outro, arregaçava daqui ou dali, alisando, abotoando, acolchetando, a linha para mofar da agulha, perguntou-lhe:
— Ora, agora, diga-me, quem é que vai ao baile, no corpo da baronesa, fazendo parte do vestido e da elegância? Quem é que vai dançar com ministros e diplomatas, enquanto você volta para a caixinha da costureira, antes de ir para o balaio das mucamas?  Vamos, diga lá.
Parece que a agulha não disse nada; mas um alfinete, de cabeça grande e não menor experiência, murmurou à pobre agulha: 
— Anda, aprende, tola. Cansas-te em abrir caminho para ela e ela é que vai gozar da vida, enquanto aí ficas na caixinha de costura. Faze como eu, que não abro caminho para ninguém. Onde me espetam, fico. 
Contei esta história a um professor de melancolia, que me disse, abanando a cabeça:
— Também eu tenho servido de agulha a muita linha ordinária!
MACHADO DE ASSIS

Assis, Machado. Contos. Série Bom Livro. 26ª ed. Editora Ática: 2002. p. 89-90.

Machado de Assis




terça-feira, 16 de julho de 2013

A Justiça


Quando criança eu tinha a mania de me sentir sempre injustiçado. Por um ou outro motivo, não me tinham feito justiça, sem perceber que, para mim, a injustiça era sempre qualquer restrição feita aos meus desejos, fantasias e vontades.
E invariavelmente arrebentava em lágrimas de protesto.
Um dia papai me chamou e disse:
- Meu filho, vamos combinar uma coisa. Você sabe que papai não gosta de ver você triste, não é? Então nós vamos fazer o seguinte: cada vez que você chorar, escreva num papel a causa. Coloque o papel no vaso azul, ali, sobre a escrivaninha. Deixe passar alguns dias e leia-o. Se achar que o assunto ainda o está aborrecendo, venha a mim, conte-me o caso e eu lhe prometo que corrigirei a injustiça que tiverem feito contra você. Combinado?
Estava combinado. Nos primeiros dias eu enchi o vaso azul de anotações. Passadas no preto e branco, minhas queixas me pareciam perfeitamente justificadas.
Passaram-se os dias e meu pai voltou a falar comigo.
- Você já pode começar a reexaminar os seus papéis. Depois venha falar comigo.
Comecei. Mas, estranhamente, constatei que minhas queixas eram banais e que, na realidade, não havia naquilo nada que pudesse motivar aborrecimento.
Abreviei o espaço dos dias e,  passei a examinar os papéis horas depois dos acontecimentos.
Verifiquei que não tinha nenhuma injustiça a exigir a reclamação de papai. E parei de chorar várias vezes ao dia, como estava acostumado a fazer.
Hoje compreendo que tudo foi uma brincadeira de papai. Todavia, com grande habilidade ele me levou a refletir antes de agir. E desenvolveu em mim a compreensão a respeito do que é justiça e injustiça em face do nosso egocentrismo, exigência de privilégios e pretensões descabidas.
Com isso meu espírito de tolerância ganhou uma amplitude que me tem beneficiado ao longo de toda a vida.
Da obra "E, Para o Resto da Vida...", Wallace Leal V. Rodrigues, ed. O Clarim






Tolerância é uma virtude pessoal que reflete a atitude e a conduta social de uma pessoa ou um grupo.
Aceitar as diferenças, tendo nelas uma fonte de enriquecimento espiritual, nos permite praticar a tolerância de modo inteligente e assim, emitimos reflexos positivos ao nosso redor que nos propiciará um espaço no qual se estabelecem relações mais respeitosas e harmoniosas. Isso inclui respeitar os demais, não impor nossas opiniões e permitir que cada um tome suas próprias decisões, sem contudo, mostrar indiferença ao que os outros pensam ou dizem.
Acredite, precisamos muito de paz!
Meu convite:
Exercite a tolerância!
Margarete














domingo, 7 de julho de 2013

Empurre a sua vaquinha

Um Mestre da sabedoria passeava por uma floresta com seu fiel discípulo, quando avistou ao longe um sítio de aparência pobre e resolveu fazer uma breve visita...
Durante o percurso ele falou ao aprendiz sobre a importância das visitas e as oportunidades de aprendizado que temos, também com as pessoas que mal conhecemos.
Chegando ao sítio constatou a pobreza do lugar, sem calçamento, casa de madeiras, os moradores, um casal e três filhos, vestidos com roupas rasgadas e sujas...
Então se aproximou do senhor aparentemente o pai daquela família e perguntou:
“Neste lugar não há sinais de pontos de comércio e de trabalho, então como o senhor e a sua família sobrevivem aqui?”
E o senhor calmamente respondeu:
"Meu amigo, nós temos uma vaquinha que nos dá vários litros de leite todos os dias. Uma parte desse produto nós vendemos ou trocamos na cidade vizinha por outros gêneros de alimentos e a outra parte nós produzimos queijo, coalhada... para o nosso consumo, e assim vamos sobrevivendo".
O sábio agradeceu a informação, contemplou o lugar por uns momentos, depois se despediu e foi embora. No meio do caminho, voltou ao seu fiel discípulo e ordenou:
“Aprendiz, pegue a vaquinha, leve-a ao precipício ali na frente e empurre-a, jogue-a lá em baixo".
O jovem arregalou os olhos espantando e questionou o mestre sobre o fato da vaquinha ser o único meio de sobrevivência daquela família, mas, como percebeu o silêncio absoluto do seu mestre, foi cumprir a ordem. 
Assim, empurrou a vaquinha morro abaixo e a viu morrer.
Aquela cena ficou marcada na memória daquele jovem durante alguns anos e um belo dia ele resolveu largar tudo o que havia aprendido e voltar naquele mesmo lugar e contar tudo àquela família, pedir perdão e ajudá-los.
Assim fez, e quando se aproximava do local avistou um sítio muito bonito, com árvores floridas, todo murado, com carro na garagem e algumas crianças brincando no jardim. 
Ficou triste e desesperado imaginando que aquela humilde família tivera que vender o sítio para sobreviver, "apertou" o passo e chegando lá, logo foi recebido por um caseiro muito simpático e perguntou sobre a família que ali morava há uns quatro anos e o caseiro respondeu:
“Continuam morando aqui.”
Espantado ele entrou correndo na casa, e viu que era mesmo a família que visitara com o mestre. Elogiou o local e perguntou ao senhor (o dono da vaquinha):
“Como o senhor melhorou este sítio e está tão bem de vida ???”
E o senhor entusiasmado, respondeu:
“Nós tínhamos uma vaquinha que caiu no precipício e morreu, daí em diante tivemos que fazer outras coisas e desenvolver habilidades que nem sabíamos que tínhamos, assim alcançamos o sucesso que seus olhos vislumbram agora...”

Ponto de reflexão:
Todos nós temos uma vaquinha que nos dá alguma coisa básica para sobrevivência e uma conveniência com a rotina.

Descubra qual é a sua ... e empurre-a morro abaixo. 





quinta-feira, 4 de julho de 2013

O Senhor Palha

                                                                             
Era uma vez, há muitos e muitos anos, é claro, porque as melhores histórias passam-se sempre há muitos e muitos anos, um homem chamado Senhor Palha. Ele não tinha casa, nem mulher, nem filhos. Para dizer a verdade, só tinha a roupa do corpo. Ora o Senhor Palha não tinha sorte. Era tão pobre que mal tinha para comer e era magrinho como um fiapo de palha.  Era por esse motivo que as pessoas lhe chamavam Senhor Palha.
Todos os dias o Senhor Palha ia ao templo pedir à Deusa da Fortuna que melhorasse a sua sorte, mas nada acontecia. Até que um dia, ele ouviu uma voz sussurrar:
— A primeira coisa em que tocares quando saíres do templo há de trazer-te uma grande fortuna.
O Senhor Palha apanhou um susto. Esfregou os olhos, olhou em volta, mas viu que estava bem acordado e que o templo estava vazio. Mesmo assim, saiu a pensar: “Terei sonhado ou foi a Deusa da Fortuna que falou comigo?” Na dúvida, correu para fora do templo, ao encontro da sorte. Mas, na pressa, o pobre Senhor Palha tropeçou nos degraus e foi rolando aos trambolhões até o final da escada, onde caiu por terra. Ao levantar-se, ajeitou as roupas e percebeu que tinha alguma coisa na mão. Era um fio de palha.
“Bom”, pensou  ele, “uma palha não vale nada, mas, se a Deusa da Fortuna quis que eu a apanhasse, é melhor guardá-la.”
E lá foi ele, com a palha na mão.
Pouco depois, apareceu uma libélula zumbindo em volta da cabeça dele. Tentou afastá-la, mas não adiantou. A libélula zumbia loucamente ao redor da cabeça dele. “Muito bem”, pensou ele. “Se não queres ir embora, fica comigo.” Apanhou a libélula e amarrou-lhe o fio de palha à cauda. Ficou a parecer um pequeno papagaio (de papel), e ele continuou a descer a rua com a libélula presa à palha. Encontrou a seguir uma florista, que ia a caminho do mercado com o filho pequenino, para vender as suas flores. Vinham de muito longe. O menino estava cansado, coberto de suor, e a poeira fazia-o chorar. Mas quando viu a libélula a zumbir amarrada ao fio de palha, o seu pequeno rosto animou-se.
— Mãe, dás-me uma libélula? — pediu. — Por favor!
“Bem”, pensou o Senhor Palha, “a Deusa da Fortuna disse-me que a palha traria sorte. Mas este garotinho está tão cansado, tão suado, que pode ficar mais feliz com um pequeno presente.” E deu ao menino a libélula presa à palha.
— É muita bondade sua — disse a florista. — Não tenho nada para lhe dar em troca além de uma rosa. Aceita?
O Senhor Palha agradeceu e continuou o seu caminho, levando a rosa. Andou mais um pouco e viu um jovem sentado num tronco de árvore, segurando a cabeça entre as mãos. Parecia tão infeliz que o Senhor Palha lhe perguntou o que havia acontecido.
— Hoje à noite, vou pedir a minha namorada em casamento — queixou-se o rapaz. — Mas sou tão pobre que não tenho nada para lhe oferecer.
— Bem, eu também sou pobre — disse o Senhor Palha. — Não tenho nada de valor, mas se quiser dar-lhe esta rosa, é sua.
O rosto do rapaz abriu-se num sorriso ao ver a esplêndida rosa.
— Fique com estas três laranjas, por favor — disse o jovem. — É só o que posso dar-lhe em troca.
O Senhor Palha continuou a andar, levando três suculentas laranjas. Em seguida, encontrou um vendedor ambulante puxando uma pequena carroça.
— Pode ajudar-me? — disse o vendedor ambulante, exausto. — Tenho puxado esta carroça durante todo o dia e estou com tanta sede que acho que vou desmaiar. Preciso de um gole de água.
— Acho que não há nenhum poço por aqui — disse o Senhor Palha. — Mas, se quiser, pode chupar estas três laranjas.
O vendedor ambulante ficou tão grato que pegou num rolo da mais fina seda que havia na carroça e deu-o ao Senhor Palha, dizendo:
— O senhor é muito bondoso. Por favor, aceite esta seda em troca.
E, uma vez mais, o Senhor Palha continuou o seu caminho, com o rolo de seda debaixo do braço.
Não tinha dado dez passos quando viu passar uma princesa numa carruagem. Tinha um olhar preocupado, mas a sua expressão alegrou-se ao ver o Senhor Palha.
— Onde arranjou  essa  seda? — gritou ela. — É  justamente aquilo de que estou à procura. Hoje é o aniversário de meu pai e quero dar-lhe um quimono real.
— Bem, já que é aniversário dele, tenho prazer em oferecer-lhe a seda — disse o Senhor Palha.
A princesa mal podia acreditar em tamanha sorte.
— O senhor é muito generoso — disse sorrindo. — Por favor, aceite esta joia em troca.
A carruagem afastou-se, deixando o Senhor Palha com uma joia de inestimável valor refulgindo à luz do sol.
“Muito bem”, pensou ele, “comecei com um fio de palha que não valia nada e agora tenho uma joia. Sinto-me contente.”
Levou a joia ao mercado, vendeu-a e, com o dinheiro, comprou uma plantação de arroz. Trabalhou muito, arou, semeou, colheu, e a cada ano a plantação produzia mais arroz. Em pouco tempo, o Senhor Palha ficou rico.
Mas a riqueza não o modificou. Oferecia sempre arroz aos que tinham fome e ajudava todos os que o procuravam. Diziam que sua sorte tinha começado com um fio de palha, mas quem sabe se não terá sido com a sua generosidade?


William J. Bennett

O Livro das Virtudes II – O Compasso Moral

Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1996